26/07/2016

Resenha: Mulheres que não sabem chorar, Lilian Farias | Bea Oliveira.

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Sou uma sobrevivente,Mas aqui estou de pé ou sentada, desarmada ou não, com lágrimas nos olhos. Lágrimas que, a cada dia, buscam a coragem necessária para serem derramadas por cima do embuste, o qual uma sociedade machista impõe sobre mulheres. Sim, a sociedade machista, principal ‘enclausuradora’ de meninas e que, no afã de sua loucura, tentam castrar o nosso choro. Ela simplesmente nos ‘ensina’ a não chorar,Choremos.







 O livro conta a história de Ana, Olga e Marisa. Três mulheres, três vidas, três histórias reais. 








Ana vive em uma luta diária contra seu passado, na qual busca acima de tudo poder ter a chance de finalmente viver.
 Com uma família traumática, manter distancia é a unica coisa que a mantem sã. Mas como é possível negar seu passado quando o amor e o ódio resolvem bater a sua porta juntos e a obrigam a reviver tudo?!

"- Levaram alguma coisa?
- Sim! Levaram a minha alma."


Olga foi vencida pela vida a muito, e seu vicio no álcool é a unica coisa que ainda alivia sua dor. Porém quando a vida decide levar sua única filha, ela se vê sozinha e com a missão de cumprir a promessa feita: abandonar a bebida. 

"Era todo o seu passado refletido. Era toda a sua história refletida. Era aquela adolescente que sempre esperava algo de bom do mundo.
 Quando largava os pensamentos de antigamente soltos na alma, confundia-se se um dia foi ou não feliz."

Marisa, 55 anos, viúva, bem sucedida, mãe exemplar. Mas o que ninguém sabia eram das dores que ela guardava somente para ela, os verdadeiros motivos para ter planejado sua vida de forma tão categórica... Até agora!

"Minha mãe não era assim. Ela jamais foi assim, Nem sequer se importava com a minha partida eterna.
 Tão preocupada em ser caridosa que adormeceu a mãe que existia nela. "Amai o próximo como a ti mesmo" era só o que ela sabia dizer. Ela não amava a filha, não se amava e queria amar o próximo."

 Cheias de histórias para contar, com todos os dramas e cicatrizes, e muitas feridas ainda abertas a vida dessas personagens se entrelaçam, e seguem caminhos que não se pode nem mesmo imaginar.


Com capítulos divididos com nomes de flores, e com um porque por trás de cada palavra, o livro veio tomando espaço em mim e me conquistou já nas primeiras paginas!

"Todo mundo tem algo a dizer, só que em algum lugar do mundo a arte de ouvir fora perdida com a própria arte de viver."

Abordando assuntos polêmicos como a homossexualidade e o machismo a autora nos mostra que à muito nos perdemos na história, e enquanto lia me peguei muitas vezes parada olhando para o livro com muitas lagrimas nos olhos. 



  Marisa pode ser vista como a vilã por muitos, mas ao ler os relatos de sua vida, senti pena do que ela foi obrigada a se tornar. A muito a vida havia lhe tirado a chance de viver. Olga sempre doce e machucada, me mostrou o quanto o mundo pode ser cruel, destruindo aquilo que você tem de melhor. O mundo deixou ela a beira da morte, mas a deixou viva pelo simples prazer de ver o sofrimento presente nela, que  estava tão fragilizada que simplesmente aceitava as dores que o mundo impunha sobre ela. - Em uma cena Olga é violentada e a unica reação dela é aceitação, pois aquilo já era tão comum, isso me incomodou tanto que neste momento pude sentir todas as dores da personagem. E chorei por ela. E Ana, a doce e machucada Ana... Me identifiquei muito com a personagem, muitas vezes ao ler sua história vi a  mim mesma nela. Com tantas dores dentro de si, com tanto cortes e feridas, seu único desejo era viver... Ela me fez acreditar que talvez, só talvez, ainda haja esperança nesse mundo.




O livro mexeu comigo de uma forma que não posso explicar. Senti meu coração muitas vezes reduzido ao pó junto com as personagens. E é um livro que com certeza vou levar por toda a minha vida!








"Gritou suplicou, e o mundo não ouviu. Não ouviu, pois estava ocupado demais para isso. Não ouviu por ser cruel e desumano. Se alguma mulheres me ouviu, ouviu meu grito espero que agora ela também grite as dores dela ao mundo. [...] Duvido muito que todas as mulheres, se cavarem bem a história, não tenham algo para contar."


- Poxa, Bea.

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